Sobre mim​​

Não sei exatamente quando escutar se tornou um desejo. Talvez tenha sido antes de saber que era possível fazer disso um trabalho. Mas lembro que foi a psicanálise que abriu espaço naquilo que parecia não caber em lugar em nenhum. Ela me deu a oportunidade de respirar dentro das minhas próprias perguntas.

Antes de cursar psicologia, em 2012, já vivia fascinada pelos sonhos. Desde pequena eles me intrigavam. Quando adolescente, tentava decifrar aquelas imagens sonhadas e queria saber o que aquilo me dizia. Às vezes, arriscava algumas interpretações e usava nas apostas no jogo do bicho  (particularmente acho isso engraçado). Ganhava alguns trocados nessas apostas, o suficiente para um lanche no intervalo da escola. Não era pelo dinheiro, mas pela tentativa de traduzir algo do incompreensível com aquilo que me pertencia. Só depois entendi que, mesmo sem saber, já buscava o inconsciente. Foi assim que cheguei a Freud, encontrei o trabalho dele sobre A Interpretação dos Sonhos e lia aquele livro como se fosse um mapa para encontrar algum caminho.

Tinha Freud comigo, nunca o abandonei, mas fora da universidade encontrei Lacan em 2015, que pareceu para complicar ainda mais minha vida que já não era fácil. Complicou e descomplicou muitas coisas e desorganizou o que eu achava saber. E, ao mesmo tempo, me deu um motivo pra construir minha clínica.

Na clínica, penso esse ofício de analista como leitora de textos inacabados, que são escritos em camadas que incluem rabiscos e rasuras, além de dar espaços para gritos abafados. Cada sessão é um lugar onde as palavras desenham formas que, muitas vezes, só existem porque a falta cria essa possibilidade. Marina Colasanti, no livro Fino Sangue, publicou em 2008 o poema que escreveu sobre o contorno da palavra, ela chamou de Pontos de Vista:

“Quando Nero queria ver o mundo melhor olhava-o através de uma esmeralda. Quando quero ver melhor o mundo eu o olho através das palavras.”

Como analista, permito me deixar cair nas entrelinhas, tocar naquilo que o sujeito não sabe que está dizendo. O que se lê, muitas vezes, está no interdito, naquilo que escapa. Penso na frase de Eliane Brum, em Meus Desacontecimentos, quando ela diz que “Toda história contada é um corpo que pode existir. É uma apropriação de si pela letra-marca de sua passagem pelo mundo.” A busca pela análise pode vir a ser esse corpo que ao falar pode ganhar uma existência. E assim, seguimos. Escuto a mim na minha análise e sigo escutando meus analisantes. Escrevemos com o que não se escreve, ou será possível escrever o silêncio? É preciso suportar o que fica quando as palavras falham. Mas existe algo que pulsa, que marca que o ponto-final não é um fim, mas um pequeno intervalo.

É nesse texto da vida que o ofício de analista ganha rumo. Fazer leituras não implica terminar histórias, mas abrir portas para que, diante do vazio, o sujeito possa viver melhor. Ou como Thiago de Mello uma vez escreveu: “não tenho um caminho novo. O que eu tenho de novo é um jeito de caminhar”.

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